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Elogio da bicicleta

Boa leitura

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Caminho Velho

Finalmente o Guia de Cicloturismo Estrada Real – Caminho Velho está em nossas mãos.

É com grande alegria que compartilhamos esta novidade, a conclusão deste guia é a realização de um antigo sonho do Olinto que foi possível ser realizado agora, pois nós cicloturistas já somos muitos, e cada vez menos somos encarados como loucos ou pagadores de promessas. Muita gente já percebeu que viajar de bicicleta pode ser uma das melhores formas de viagem.
Com este guia propomos uma viagem por um dos caminhos mais antigos do nosso país, que manteve muito de sua originalidade devido ao esquecimento e a desimportância econômica. É um guia de mão dupla, ou seja, tem planilhas nos dois sentidos: Paraty – Ouro Preto e Ouro Preto – Paraty. Ele faz parte de um projeto maior que pretende oferecer vários guias associados para que o cicloturista possa viajar grandes distâncias pelo país. Atualmente já é possível sair do interior de São Paulo fazendo o Caminho da Fé e, na altura de Campos do Jordão, fazer uma grande volta pela Mantiqueira, depois continuar a partir de Aparecida e Guaratinguetá pela Estrada Real até Ouro Preto, em um viagem de cerca de 1.500 km, tudo em cima dos guias do Projeto de Cicloturismo no Brasil.O guia traz perfil altimétrico do caminho, planilhas detalhadas, mapas dos circuitos, mapas detalhados das cidades, bike shops, empresas de ônibus, bancos, onde ficar, onde comer, pontos turísticos, curiosidades de cada localidade, o histórico da Estrada Real, preparação, treinamento, um capítulo sobre a arquitetura que verá pelo caminho e uma entrevista com o criador do Projeto Turístico Estrada Real, Áttila Godoy, ou seja, tudo que o cicloturista precisa saber para realizar o caminho (veja um capítulo inteiro do guia).
Para quem gosta de imagens, o DVD da Estrada Real traz emocionantes 48 minutos de imagens do caminho. A cada vez que revemos ficamos impressionados com a riqueza e a beleza de nosso país:
Gostaríamos de agradecer a todos os leitores e cicloturistas que são os únicos patrocinadores deste projeto. Em especial aqueles que voluntariamente divulgam nosso trabalho por meio de suas listas privadas de mail, suas páginas, blogs, listas de discussão, etc…  aqueles que mostram nossos filmes a pessoas mais jovens e acabam, assim como nós, semeando sonhos de viagem em bicicleta.
Rafaela e Olinto
PS. Neste ano fizemos o lançamento dos guias no Rio de Janeiro com o apoio da Recicloteca. Ficamos estacionados na frente da casa do Eduardo e da Carol. Eles trabalham nesta instituição, são cicloturistas e muito engajados com projetos ecológicos e reciclagem. A partir de então, tomamos o compromisso de fazer os guias sempre com papel reciclado
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Leituras do Feriado

Além de pedalar, nossa mente tb ilustra-se.  Na cidade  de Sorocaba, teremos nossos momentos para as 7 leituras:

7roteiros

“O mundo visto a partir de uma bicicleta tem um ritmo só seu. Nenhum outro meio de transporte propicia a intimidade, a mobilidade e a simpatia oferecidas por uma bicicleta. A sensação de liberdade, o vento acariciando seu rosto e a certeza de que você é o dono do seu destino são algumas das primeiras sensações que a bike oferece”  José Antonio Ramalho

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Do ciclonomade: “Vida de ciclista não é só pedalar, bem como a vida nômade é mais que simplesmente pular de um lugar ao outro. Desde junho passado minha rotina tem sido apreciar novos horizontes, ao lado de novas pessoas, os locais passando como instantâneos, quase fotografias.” (cont…)

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Feliz Cidade Feliz “(…) pegar a magrela e pedalar 100 km. Pode parecer loucura, mas tudo isso vale totalmente a pena quando no final você vê uma criança de uns dois anos de idade, em cima de uma bicicletinha minúscula, olhar para você e gritar: “menos carros, mais bicicletas”! ( cont…)

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Falanstério: “alguns ciclistas/poetas não comemoram a liberdade (?) de um povo. Percorreram as ruas da “Paulicéia Desvairada” com o intuito de conhecer os locais que o escritor Mário de Andrade disse onde deixaria as partes do seu corpo depois que fosse para outra dimensão.”

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Feliz Cidade Feliz:Fomos ao Carlos Botelho pedalando – nada de barulhos de motor e fumaças de escapamento, apenas o silêncio do pedal, o cheiro de natureza misturado ao cheirinho dos vinhedos de São Miguel Arcanjo e nada de poluição.” (cont…)

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Aninha: “(…)Essa viagem para mim sempre foi um sonho que junto a muitos consegui realizar, encontrar todas as estações do ano em um só dia alcançar altitudes que nunca imaginei que conseguiria e pensar que até a noite de quarta-feira ainda não tinha certeza se iria ou não fazer a viagem, eu que já estava de bike nova ainda não tinha pneus, tudo foi uma realização.” (cont…)

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Falanstério: “O feriado de Tiradentes foi excelente. Uma bela trilha de mountain-bike no meio do mato. Um passeio ao lado da natureza e de três amigos. (cont…)

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Aninha: Cá entre nós os 45kms que ligam Caraguá a Ubatuba não são nada, mas depois de encarar a Estrada da Petrobras no dia anterior não vou negar que pensei 2 vezes antes de subir na bike.” (cont…)

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Aproveite e leia a continuidade dos relatos, clicando no nomes dos blogs.

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Leituras do feriado

O que fazer no feriado? pedalar, obviedade!

E que tal começar a ler ( além da realidade midiática corporativa)?

Nossas indicações:

Arte: Latuff via CMI

Arte: Latuff via CMI

Disappointment

Léxico da (anti*)desilusão   Naomi Klein, The Nation

( dica e trad. do Vi o Mundo)

Nem tudo vai muito bem na Obamafãslândia. Não se sabe ainda exatamente como explicar a mudança de humor. Talvez seja o fedor rançoso que vem do mais recente banco ‘resgatado’ pelo Tesouro. Ou das notícias de que o principal conselheiro de Economia do presidente, Larry Summers, recebeu milhões dos mesmos bancos e corretoras de “hedge funds” de Wall Street que, agora, ele tenta proteger contra a re-regulação. Ou talvez a coisa tenha começado antes, quando Obama silenciou, durante o ataque de Israel a Gaza.

Seja quem for que pague o mico, número cada vez maior de Obamamaníacos começam a entrever a possibilidade de que seu herói talvez não consiga salvar o mundo, se só contar, para ajudá-lo, com nossa esperança… por mais sincera e firme que seja.

Se esperamos que a cultura de “fã-clube” que levou Obama ao poder venha a converter-se em movimento político independente, suficientemente potente para produzir programas que efetivamente dêem conta dos atuais problemas e crises que os EUA enfrentam, é hora de todos pararmos de esperar-com-esperanças e começar a exigir.

O primeiro passo, contudo, tem de passar por todos entendermos completamente os interespaços muito estreitos nos quais muitos dos movimentos progressistas são obrigados a viver, nos EUA. Para entender isso, é preciso construir outra linguagem, específica para esse momento-Obama em que estamos. Aqui sugiro um começo de um novo léxico.

Super-esperanças. Como nas ressacas, a super-esperança resulta de super-excesso, ontem. Acontece sempre que mergulhamos fundo demais em qualquer sensação prazerosa que, contudo, seja ou pecado ou crime ou faça mal à saúde ou ao meio ambiente. E depois vem o remorso. A culpa. Às vezes, muita vergonha. É o equivalente político da larica por hipoglicemia. Frase exemplar, de caso de super-esperança é: “Ao assistir ao discurso sobre economia, de Obama, meu coração disparou. Depois, quando quis contar a um amigo sobre os planos de Obama para resolver a vida dos milhões de desempregados e sem-teto… eu só gaguejava. Surto muito brabo, de super-esperança.”

Esperança-sobe-e-desce. Como se vivesse numa montanha-russa, o esperador de esperança-sobe-e-desce vive um intenso sobe-e-desce emocional nesses dias de Obama, entre a euforia de ter um presidente que apoia que se ensine sexo seguro nas escolas, e o fundo do poço emocional de sentir-se excluído da discussão, só porque se é segurado individual de algum plano de saúde privado… e é como se não existíssemos e ninguém nos ouve. Frase exemplar, nesse caso, é: “Surtei de alegria quando Obama disse que Guantánamo será fechada. Mas agora estão dizendo que, na prisão de Bagram, ninguém tem direito algum, a nada. Parem a montanha-russa!! Eu preciso sair daqui!”

Esperança-intoxicação. Como quem morre de saudade da casa da mãe, os esperadores de esperança-intoxicação são indivíduos intensamente nostálgicos. Não entenderam que a campanha eleitoral não passou de um surto de otimismo, pensaram que duraria para sempre. Agora, vivem para reencontrar aquela emoção, aquele calor… quase sempre super-exagerando o significado de manifestações quase insignificantes da decência humana de Obama. Frases exemplares: “Eu fiquei gravemente intoxicado de esperança-tóxica sobre a escalada no Afeganistão. Depois, quando assisti a um vídeo no YouTube, em que Michelle ensina jardinagem orgânica, foi lindo e tudo passou. Foi como se estivesse outra vez assistindo à cerimônia da posse. Depois, soube que o governo Obama está boicotando uma importante conferência da ONU contra o racismo… E desabei, outra vez, de saudades dos bons tempos. Foi pior que antes! Sorte que, em seguida, assisti a um desfile em que Michelle só usou vestidos desenhados por estilistas independentes, das minorias étnicas e, ufa, melhorei.”

Esperança-fissura. A esperança-fissura, como a fissura de drogas, é terrível e arrasta a fazer qualquer coisa para pôr fim à fissura. (Intimamente relacionada à esperança-intoxicação-saudade-dos-bons-tempos, mas mais severa; afeta sobretudo machos de meia idade). Frase exemplar: “Joe contou que realmente acredita que Obama deliberadamente escolheu Summers especificamente para estragar o resgate dos bancos; assim, Obama teria uma desculpa para fazer o que realmente deseja fazer: nationalizar os bancos e convertê-los em cooperativas de crédito. Que esperança-fissura!”

Esperança-deprê. Como um certo tipo de amante-deprê, a obamita esperadora de esperança-deprê não é doida; é horrivelmente pessimista e está muito triste. Ela (a maioria são elas) projetou poderes messiânicos em Obama. Agora, sofre de desilusão inconsolável. Frase exemplar: “Acreditei meeeeeeeeeeeeesmo que Obama nos obrigaria a encarar o passado escravagista dos EUA e que teríamos discussão nacional séria, nos EUA, sobre raça e racismo. Agora… ele já nem fala em raça e só faz distorcer argumentos legalistas para evitar a devassa em todos os crimes dos anos Bush. Cada vez que ouço Obama dizer que “temos de avançar”… é como se meu coração levasse uma chicotada, tudo outra vez.”

Esperança reversa. Como no coice reverso de um chicote, que tem de ser bem manejado para não chicotear o chicoteador, a esperança reversa é o perfeito reverso, um giro de 180 graus, em tudo que tenha a ver com Obama. As vítimas de esperança reversa foram seguidores apaixonados, verdadeiros evangelistas, carne da carne de Obama. Hoje, são seus piores inimigos, os mais acérrimos criticadores! Frase exemplar: “Com Bush, pelo menos, todos sempre souberam que era perfeito idiota. Agora, taí: as mesmas guerras, as mesmas torturas nas mesmas prisões sem lei, a mesma corrupção em Washington, e os panacas festejam, como esposa enganada de novelão, que nada sabe, nada vê. Precisam é de umas boas chicotadas!”

Agora, tentando encontrar nomes para designar nossos padecimentos nacionais por causa da esperança, lembrei-me do falecido Studs Terkel**, e do que diria dessa ressaca nacional pós-eleitoral que acomete os EUA. Com certeza diria que não desesperemos. Folheei um de seus últimos livros Hope Dies Last [A esperança é a última que morre]. Nem precisei procurar muito. As primeiras palavras do livro são “a esperança nunca morre como nasceu: ela sempre deixa algum benefício”.

Aí se diz quase tudo. A esperança foi excelente slogan, que acompanhou um candidato que fez aposta alta, de longo prazo. Contudo, como mote e postura que acompanhe o presidente da nação mais poderosa da terra é perigosamente reverente.

A tarefa, para avançar (expressão que Obama adora), não implica abandonar a esperança. Implica, sim, encontrar melhores pontos nos quais apoiar a esperança – nas fábricas, nas comunidades, nos bairros, nas periferias, locais e espaços em que comícios, reuniões, manifestações de rua e ocupações começam já a renascer.

Sam Gindlin, cientista político, escreveu recentemente que o movimento de trabalhadores pode fazer muito mais do que apenas tentar preservar para si algum status quo.

Os trabalhadores podem, por exemplo, exigir que fábricas falidas e desativadas sejam convertidas em instalações ‘verdes’, onde se fabriquem veículos de transporte coletivo e se criem tecnologias não poluidoras e sistemas de energia renovável. “Ser realista significa arrancar a esperança dos discursos e metê-la nas mãos dos que trabalham”, escreveu ele.

Com o quê chegamos à última entrada desse léxico.

Esperança em movimento. Sentença exemplar: “Basta de crer em esperança que cai do céu. É preciso ativar a esperança em movimento, nos movimentos, de baixo para cima.”


* Essa é uma tradução de guerrilha. A quantidade de neologias cria risco imenso, para qquer tradutor. O que aí vai é uma das muitas possibilidade de traduzir esse tipo de discurso e há inúmeras outras. Correções e comentários são bem-vindos para caia.fittipaldi@uol.com.br

** Para saber quem é ver aqui

Arte: Protesto Gráfico

Arte: Protesto Gráfico

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Socialismo fracassou, capitalismo quebrou: o que vem a seguir?

( via Vi o Mundo)

A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. A prioridade não é o aumento do lucro e do consumo, mas sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos por meio da ação coletiva. Isso significa iniciativa pública não baseada na busca de lucro. Decisões públicas dirigidas a melhorias sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza pessoal. A análise é do historiador britânico Eric Hobsbawm

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Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, o deslocamento do mercado livre para a ação pública deve ser maior do que os políticos imaginam. O século XX já ficou para trás, mas ainda não aprendemos a viver no século XXI, ou ao menos pensá-lo de um modo apropriado. Não deveria ser tão difícil como parece, dado que a idéia básica que dominou a economia e a política no século passado desapareceu, claramente, pelo sumidouro da história. O que tínhamos era um modo de pensar as modernas economias industriais – em realidade todas as economias -, em termos de dois opostos mutuamente excludentes: capitalismo ou socialismo.

Conhecemos duas tentativas práticas de realizar ambos sistemas em sua forma pura: por um lado, as economias de planificação estatal, centralizadas, de tipo soviético; por outro, a economia capitalista de livre mercado isenta de qualquer restrição e controle. As primeiras vieram abaixo na década de 1980, e com elas os sistemas políticos comunistas europeus; a segunda está se decompondo diante de nossos olhos na maior crise do capitalismo global desde a década de 1930. Em alguns aspectos, é uma crise de maior envergadura do que aquela, na medida em que a globalização da economia não estava então tão desenvolvida como hoje e a economia planificada da União Soviética não foi afetada. Não conhecemos a gravidade e a duração da atual crise, mas sem dúvida ela vai marcar o final do tipo de capitalismo de livre mercado iniciado com Margareth Thatcher e Ronald Reagan.

A impotência, por conseguinte, ameaça tanto os que acreditam em um capitalismo de mercado, puro e desestatizado, uma espécie de anarquismo burguês, quanto os que crêem em um socialismo planificado e descontaminado da busca por lucros. Ambos estão quebrados. O futuro, como o presente e o passado, pertence às economias mistas nas quais o público e o privado estejam mutuamente vinculados de uma ou outra maneira. Mas como? Este é o problema que está colocado diante de nós hoje, em particular para a gente de esquerda.

Ninguém pensa seriamente em regressar aos sistemas socialistas de tipo soviético, não só por suas deficiências políticas, mas também pela crescente indolência e ineficiência de suas economias, ainda que isso não deva nos levar a subestimar seus impressionantes êxitos sociais e educacionais. Por outro lado, até a implosão do mercado livre global no ano passado, inclusive os partidos social-democratas e moderados de esquerda dos países do capitalismo do Norte e da Australásia estavam comprometidos mais e mais com o êxito do capitalismo de livre mercado.

Efetivamente, desde o momento da queda da URSS até hoje não recordo nenhum partido ou líder que denunciasse o capitalismo como algo inaceitável. E nenhum esteve tão ligado a sua sorte como o New Labour, o novo trabalhismo britânico. Em suas políticas econômicas, tanto Tony Blair como Gordon Brown (este até outubro de 2008) podiam ser qualificados sem nenhum exagero como Thatchers com calças. O mesmo se aplica ao Partido Democrata, nos Estados Unidos.

A idéia básica do novo trabalhismo, desde 1950, era que o socialismo era desnecessário e que se podia confiar no sistema capitalista para fazer florescer e gerar mais riqueza do que em qualquer outro sistema. Tudo o que os socialistas tinham que fazer era garantir uma distribuição eqüitativa. Mas, desde 1970, o acelerado crescimento da globalização dificultou e atingiu fatalmente a base tradicional do Partido Trabalhista britânico e, em realidade, as políticas de ajudas e apoios de qualquer partido social democrata. Muitas pessoas, na década de 1980, consideraram que se o barco do trabalhismo não queria ir a pique, o que era uma possibilidade real, tinha que ser objeto de uma atualização.

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Mas não foi. Sob o impacto do que considerou a revitalização econômica thatcherista, o New Labour, a partir de 1997, engoliu inteira a ideologia, ou melhor, a teologia, do fundamentalismo do mercado livre global. O Reino Unido desregulamentou seus mercados, vendeu suas indústrias a quem pagou mais, deixou de fabricar produtos para a exportação (ao contrário do que fizeram Alemanha, França e Suíça) e apostou todo seu dinheiro em sua conversão a centro mundial dos serviços financeiros, tornando-se também um paraíso de bilionários lavadores de dinheiro. Assim, o impacto atual da crise mundial sobre a libra e a economia britânica será provavelmente o mais catastrófico de todas as economias ocidentais e o com a recuperação mais difícil também.

É possível afirmar que tudo isso já são águas passadas. Que somos livres para regressar à economia mista e que a velha caixa de ferramentas trabalhista está aí a nossa disposição – inclusive a nacionalização -, de modo que tudo o que precisamos fazer é utilizar de novo essas ferramentas que o New Labour nunca deixou de usar. No entanto, essa idéia sugere que sabemos o que fazer com as ferramentas. Mas não é assim.

Por um lado, não sabemos como superar a crise atual. Não há ninguém, nem os governos, nem os bancos centrais, nem as instituições financeiras mundiais que saiba o que fazer: todos estão como um cego que tenta sair do labirinto tateando as paredes com todo tipo de bastões na esperança de encontrar o caminho da saída.

Por outro lado, subestimamos o persistente grau de dependência dos governos e dos responsáveis pelas políticas às receitas do livre mercado, que tanto prazer lhes proporcionaram durante décadas. Por acaso se livraram do pressuposto básico de que a empresa privada voltada ao lucro é sempre o melhor e mais eficaz meio de fazer as coisas? Ou de que a organização e a contabilidade empresariais deveriam ser os modelos inclusive da função pública, da educação e da pesquisa? Ou de que o crescente abismo entre os bilionários e o resto da população não é tão importante, uma vez que todos os demais – exceto uma minoria de pobres – estejam um pouquinho melhor? Ou de que o que um país necessita, em qualquer caso, é um máximo de crescimento econômico e de competitividade comercial? Não creio que tenham superado tudo isso.

No entanto, uma política progressista requer algo mais que uma ruptura um pouco maior com os pressupostos econômicos e morais dos últimos 30 anos. Requer um regresso à convicção de que o crescimento econômico e a abundância que comporta são um meio, não um fim. Os fins são os efeitos que têm sobre as vidas, as possibilidades vitais e as expectativas das pessoas.

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Tomemos o caso de Londres. É evidente que importa a todos nós que a economia de Londres floresça. Mas a prova de fogo da enorme riqueza gerada em algumas partes da capital não é que tenha contribuído com 20 ou 30% do PIB britânico, mas sim como afetou a vida de milhões de pessoas que ali vivem e trabalham. A que tipo de vida têm direito? Podem se permitir a viver ali? Se não podem, não é nenhuma compensação que Londres seja um paraíso dos muito ricos. Podem conseguir empregos remunerados decentemente ou qualquer tipo de emprego? Se não podem, de que serve jactar-se de ter restaurantes de três estrelas Michelin, com alguns chefs convertidos eles mesmos em estrelas. Podem levar seus filhos à escola? A falta de escolas adequadas não é compensada pelo fato de que as universidades de Londres podem montar uma equipe de futebol com seus professores ganhadores de prêmios Nobel.

A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. Não importa só o aumento do lucro e do consumo dos particulares, mas sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos por meio da ação coletiva. Mas isso significa – ou deveria significar – iniciativa pública não baseada na busca de lucro, sequer para redistribuir a acumulação privada. Decisões públicas dirigidas a conseguir melhorias sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza pessoal.

Em nenhum âmbito isso será mais importante do que na luta contra o maior problema com que nos enfrentamos neste século: a crise do meio ambiente. Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, significará um deslocamento de grande alcance, do livre mercado para a ação pública, uma mudança maior do que a proposta pelo governo britânico. E, levando em conta a gravidade da crise econômica, deveria ser um deslocamento rápido. O tempo não está do nosso lado.

Artigo publicado originalmente no jornal The Guardian. Tradução do inglês para o espanhol: S. Segui, integrante dos coletivos Tlaxcala, Rebelión e Cubadebate. Tradução do espanhol para o português: Katarina Peixoto

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dica do Twitter do Luddista

+ leituras:

Editorial do CMI

+ no CMI

Sigilo Bacário – no Protesto Gráfico

Um Sindicato – Pimenta Negra

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Gnomo ciclista no raolim do Saci

O Gnomo,  é um dos convidados para a Sacicletada do Raolim: “só um gnomo ciclista, segurando o guidom da bicicleta com a mão esquerda, enquanto a direita fez-me um dilatado gesto obsceno.” Marcos Rey

arte; Orlando

arte: Orlando

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