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ser[h]u[m]ano
aquele que causa medo
que te faz apertar o passo naquela rua escura do centro
um mano
aquele que fala gíria
e que usa roupas largas
os manos
aqueles que fazem um rap
os mano [pow]
na porta do bar
um mano
na fila do busão as cinco da madrugada
dormindo em pé
hum mano
saindo do da estação grajaú
com destino a estação osasco
[h]um mano
que mora na favela
[h]umano
que toma enquadro da PM
ser um mano
ser humano
ser[h]u[m]ano
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Se Liga aí é 10 de maio
Se ligaí! | 10/05, 19h, na Ação Educativa: Abelardo Rodrigues retorna com seu Memória da Noite revisitada & outros poemas
Peço licença pra fazer um convite pra você!
Abelardo Rodrigues nasceu em Monte Azul Paulista (SP), em 1952, e mora na zona leste paulistana a mais de 30 anos. Publicou Memória da Noite (Ed. do Autor, 1978). Foi co-fundador da antologia Cadernos Negros, junto com Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Cuti e Jorge Lescano. Tem participação na premiada antologia Axé – Antologia Contemporânea da poesia negra (Org. Paulo Colina, 1982), O Negro Escrito (Oswaldo de Camargo, 1987) e tem diversos textos publicados em revistas norte – americanas e alemãs; é um poeta muito representativo na cena da literatura negro brasileira, e sem dúvida, figura como escritor essencial para a literatura produzida pela coletividade negra paulistana.
poemas de Abelardo Rodrigues:
A NOSSA VOZ ALTISSONANTESobre o Manifesto Negro Contra o Racismo, em 07/07/1978
nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, organizado
pelo MNUCDR (MNU) Movimento Negro Unificado.Floresceram naquelas escadas
vozes irriquietas de negritudes
que foram punhos diretos
içados como velas de fogo
ao mar de silêncio e medo
que nos dominava.Vozes que tremularam liberdades
antigas
republicanamente amoitadas
em 1888.
Discursos dos despossuídos
de vozes
juntando-se à Nação calada
sobre novas botas de silêncio
galgando do espanto branco
que passava
o medo e
a interrogaçãoVozes brasileiras negras
secularmente amor-.
-daçadas
reerguendo-se
junto ao coro dos
calados:A nossa presença
negra
presságio
dos bons
ventos
da
Liberdade
sonho coisificado
nas senzalas coloniais
do silêncio.
Poema publicado em Memória da noite, revisitada & outros poemas, 2013.
GargantaHoje
é preciso que tua garganta
do existir
esteja limpa
para que jorre
teu negrume.
Uma garganta não é corpo
flácido
É sangue escorrendo
em
leilão de cais.
Sua garganta,irmão
É uma quarta-feira
de cinzas.
Poema publicado em Cadernos Negros 3. Poemas. Quilombhoje, 1980.
BatalhaUm exército de palavras
se faz necessário
para o nosso querer.
E que façamos guerrilhas
contra essa calmaria geral.Há que pintarmos
um novo quadro
de momentos
que foram eternidades
em nossa pelePoema publicado em Axé – Antologia Contemporânea da Poesia Negra Brasileira – Paulo Colina (org), 1982. Publicação premiada como melhor livro de poesia do ano pela APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte.
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Os vencidos de hoje
Elogio da Dialéctica
Bertold Brecht
A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos O poder apregoa: as coisas
continuarão a ser como são Nenhuma voz além da dos que mandam E em todos os
mercados proclama a exploração; isto é apenas o meu começo
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem Aquilo que nòs queremos
nunca mais o alcançaremos
Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados Quem pois ousa dizer: nunca De quem depende que a
opressão prossiga? De nòs De quem depende que ela acabe? Também de nòs O que
é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aì que o retenha E nunca será: ainda
hoje Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã
…………
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Verdade e falas
Sobre ser sincero e verdadeiro conosco e com as pessoas, principalmente com aquelas que querem o nosso bem, eis algumas dicas:
quando você quiser dizer ‘não’; diga simplesmente: ‘não’.
quando você quiser dizer ‘não posso’; diga simplesmente: ‘não posso’.
quando você quiser dizer ‘não quero’; diga simplesmente: ‘não quero’.
quando você quiser dizer ‘vou embora’; diga simplesmente: ‘vou embora’ e vá.
quando você quiser dizer ‘eu fico’; diga simplesmente: ‘eu fico’ e fique.
quando você quiser dizer ‘quero’; diga simplesmente: ‘eu quero’ e queira.
quando você quiser dizer ‘posso’; diga simplesmente: ‘posso’.
quando você quiser dizer ‘sim’; diga simplesmente: ‘sim’.
quando você quiser dizer ‘eu te amo’; simplesmente ‘ame’.
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Bicicleta é poesia
Oda a la bicicleta
Iba
por el camino
crepitante:
el sol se desgranaba
como maíz ardiendo
y era
la tierra
calurosa
un infinito círculo
con cielo arriba
azul, deshabitado.
Pasaron
junto a mí
las bicicletas,
los únicos
insectos
de aquel
minuto seco del verano,
sigilosas,
veloces,
transparentes:
me parecieron
só
lo movimientos del aire.
Obreros y muchachas
a las fábricas
iban
entregando
los ojos
al verano,
las cabezas al cielo,
sentados
en los
élitros
de las vertiginosas
bicicletas
que silbaban
cruzando
puentes, rosales, zarza
y mediodía
Pensé en la tarde cuando los muchachos
se laven,
canten, coman, levanten
una copa
de vino
en honor
del amor
y de la vida,
y a la puerta
esperando
la bicicleta
inmóvil
porque
sólo
de movimiento fue su alma
y allí caída
no es
insecto transparente
que recorre
el verano,
sino
esqueleto
frío
que sólo
recupera
un cuerpo errante
con la urgencia
y la luz,
es decir,
con
la
resurrección
de cada día.
Pablo Neruda
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DIA INTERNACIONAL PELA ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL
“ESSE POST FAZ PARTE DA BLOGAGEM COLETIVA PELO DIA INTERNACIONAL PELA ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL, UMA INICIATIVA BLOGUEIRAS NEGRAS.”
– o racismo não pára*
tá na cara
tá na pele
tá na folha
se escreve
é palavra
é Brasil
– o racismo não pára
tá na página
tá na estrofe
tá no verso
tá na imagem
é textura
é Brasil
– o racismo não pára
tá ao lado
tá ausente
no passado
no presente
é corrente
é Brasil
– o racismo não pára
tá na mente,
tá no agora
no passado
na memória,
é história,
é Brasil
– o racismo não pára
tá no nectar
tá no sumo
na semente
no consumo
é cultura
é Brasil
– o racismo não pára
tá no fruto
tá no suco
na folhagem
no charuto
é produto
é Brasil
– o racismo não pára
tá no copo
tá no prato
no varejo
no atacado
é mercado
é Brasil
– o racismo não pára
tá no nível
tá no plumo
tá na cerca
tá no muro
é concreto
é Brasil
– Racismo não!!
Pára!!
* Poema O Racismo não Pára, de Nelson Maca, dica do Ruivo
Por que 21 de março?
Em 21 de março de cada ano, a ONU relembra o triste episódio de 1960, quando dezenas de manifestantes pacíficos foram mortos a tiros pela polícia no município sul-africano de Sharpeville, quando eles protestavam contra o apartheid.
Fonte ONU
Em memória aos militantes negros que morreram lutando, essa data foi instituída pela ONU. Essa data, como outras lembradas pelo Movimento Negro não é mais uma data festiva, muito pelo contrário: com a instituição dessa data, temos no calendário um dia garantido, com a atenção voltada às lutas dos povos negros contra a opressão e a discriminação racial.
sugestão de leitura para ampliar os diálogos:
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Tomara
“Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais…”
Vinícius de Moraes
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Transformar
Nós os convidamos a caminhar conosco
e a conosco transformar não somente uma das leis da terra,
mas a lei fundamental.
Quando vocês tiverem melhorado o mundo,
melhorem este mundo melhorado!
Abandonem este mundo!
Quando, completando a obra, vocês tiverem transformado a humanidade,
transformem esta humanidade transformada.
Desapeguem-se dela!
E transformando o mundo e a humanidade,
transformai-vos.
Saibam abandonar a si mesmos!
(Bertolt Brecht, Peça Didática de Baden-Baden, 1929)
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