Arquivo da tag: Latuff

Contra a menoridade penal

arte: Latuff

arte: Latuff

Poetas e rappers se uniram na campanha contra a redução da maioridade penal. Há mais de 15 dias, começaram a divulgar seus vídeos [ a ideia é que mais pessoas elaborem rimas e participem]. Entre os rappers que participam do projeto estão Tubarão Dulixo

e Lurdes da Luz,

Tati Botelho,

Carol Peixoto etc.

Os vídeos podem ser gravados com webcam ou celular, à capela. “A ideia é focar na mensagem mesmo”, explica. Interessados podem entrar em contato por e-mail para contramaioridadepenal@gmail.com

.-.-.-.-

Deixe um comentário

Arquivado em Memória, movimentos sociais, mulheres

Sou Guarani Kaiowa

Leia o texto da Tarsila:

“Eu sou agora Guarani Kaiowá. Sou porque sou humana, porque escolhi dar vazão à dor que senti ao ler a sua declaração de intenção de suicídio. Sou porque falta amor tanto aqui em São Paulo quanto no MS, e amor é tão precioso quanto comida, que também falta bastante. Longe dos olhos das multidões as atrocidades correm mais soltas: porque se vive um mercantilismo selvagem onde os olhos da Declaração de Direitos Humanos não alcançam. Sou porque favelas são queimadas e ninguém vê, sou porque a Justiça brasileira mata diariamente por omissão, e ninguém vê, e quem vê não sabe como agir.

Eu sou uma delas. Sou Guarani Kaiowá porque tive a honra de conhecer o Santuário dos Pajés (obrigado Izabele!) e entendi que não, não são boatos de gente revoltada com o sistema o que se ouve falar sobre atrocidades como assassinatos, tortura, fome, omissão – que sempre existiram, verdade, mas na nossa vida na “bolha” achamos que são exceções execráveis, aberrações isoladas em meio a um mundo iluminista. Não são. Os fatos são averiguáveis, as violações aos direitos humanos ocorrem a rodo no país, mas tudo é tornado complicado quando existe poder e grana pesada no meio.

Sou Guarani Kaiowá porque me dói observar como os relacionamentos se rompem e corrompem com a influência do dinheiro. Entendi que sim, outros modos de vida, mais antigos, ainda detêm uma sabedoria que não está nos livros, uma sabedoria relacional. Amor mesmo, de graça, sem reservas, pode-se dizer.

Sou Guarani Kaiowá principalmente porque acredito no direito de viver e morrer com dignidade; de honrar a terra e os antepassados da forma que estiver ao alcance, ainda que seja através da derrota. Mas mesmo acreditando nisso, sigo profundamente triste. Lamento por antecipação a perda de um povo, lamento a violência sistêmica. Lamento a impotência deles, e a nossa. Estou de luto, antes mesmo do suicídio coletivo, estou de luto simplesmente por estar alerta.

Sou Guarani Kaiowá porque sinto. Porque ouso conhecer por outras formas além do pensamento: não quero que esse povo seja apenas mais uma abstração teórica dentre as muitas que lidamos no dia a dia. Não mais uma guerra abstrata no oriente médio, não mais uma miséria abstrata na África. Não. Isso tudo está acontecendo relativamente debaixo de nossos narizes, e não quero uma memória vazia de um passado que não me tocou. O mínimo que posso fazer a distância é querer dar um abraço.

E na ausência presencial deles, vou procurar outros abraços. Abraços de compreensão da devastação e da finitude humana, e do amor e da esperança que sempre teimam em surgir por debaixo destas”

 

leia mais tb:

 

Mapa das terras guarani/kaiowá.
Algumas das áreas em conflito:
1 – Arroio Korá – TI com homologação suspensa pelo STF em 2009 por liminar – até hoje não julgada. Em protesto, o grupo ocupou em agosto parte da terra onde os fazendeiros ainda estão instalados;
2 – Potrero Guasu – TI já declarada, faltam providências para indenizações etc. Indígenas retomaram no início de setembro parte da área aind

a ocupada por fazendeiros;
3 – Mbarakay/Pyelito Kue – é onde está o grupo ameaçado de despejo que divulgou a recente carta. A localização no mapa é aproximada, eles estão escondidos em áreas de mata, para fugir dos ataques de pistoleiros;
4 – Guaiviry – é onde foi morto Nisio Gomes, em novembro de 2011. Houve novas ameaças recentes por ali;
5 – Paso Piraju – outra área ocupada há quase dez anos. O grupo também está ameaçado por uma ordem de despejo.
E por aí vai…
…….
..
.-.-.-.

Deixe um comentário

Arquivado em arte, Memória, movimentos sociais, mulheres, protestos, texto

Latinoamérica

Me llamo Ernesto, soy argentino,

pero cubano de corazón.

Me dicen Che, soy rosarino,

latinoamericano sin razón.

Y tú, muchacha, ¿cómo te llamas?

¿María, Ana, Encarnación?

Y tú, muchacho, de dónde eres?

¿de lima, Río o Asunción?

Mi nombre es Pablo y soy de Chile.

Escribo versos y una canción

desesperada a mi amada,

latinoamericana sin rázon.

Y tú, muchacho,  ¿cómo te llamas?

¿Pedro, Marcos o Salvador?

Y tú, muchacha,  ¿de dónde eres?

¿De Perú, Cuba o Ecuador?

Pablo Neruda

locos por ti América

.-.-.-.-.-.-.-.-.

8 Comentários

Arquivado em arte, charge, Memória, poesia

Parem o genocídio palestino!

Ataque do Estado Sionista à Flotilha humanitária pró-Gaza *

Na madrugada de hoje, horário de Israel entre 4h30 e 5h, a marinha israelense atacou em águas internacionais  a frota humanitária pró-palestina que tinha 750 tripulantes entre eles cineatas, documentaristas, um premio nobel, médicos, enfermeiros, professores e até mesmo um sobrevivente do Holocausto de 85 anos.

O próprio porta-voz do Exército israelense, general Avi Benayahu, afirmou à rádio pública que o ataque aconteceu em águas internacionais:  “O comando agiu em alto mar entre 4H30 e 5H00, a uma distância de 70 a 80 milhas (130 a 150 km) de nossa costa”, ferindo, portanto, os termos dos acordos de paz de Oslo (1993), que deram a Israel o controle das águas territoriais diante da Faixa de Gaza em uma distância de 20 milhas (37 km).

Até o momento sabemos que 10 tripulantes foram mortos e mais de 30 ficaram feridos.

O mundo inteiro repudiou o ataque, o Brasil e alguns outros países retiraram seus embaixadores de Israel, vários protestos aconteceram ao redor do mundo contra a covardia israelense de atacar uma pequena frota com remédios, cadeiras de roda, suprimentos e 750 ativistas pacifistas.

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, afirmou que o bloqueio de Israel à Gaza está “no cerne de muitos dos problemas que afligiam a situação entre Israel e a Palestina” que se tem a impressão de que o “governo israelense trata d direito internacional com desprezo perpétuo” e finalmente que o bloqueio à Gaza foi suspenso, não haveria necessidade de flotilhas para levar ajuda humanitária.” (leia aqui o original em inglês)

Israel merece sanções severas, aguardemos a comunidade internacional tomar providências, protestemos, pressionemos as autoridades por medidas efetivas contra este insidioso bloqueio à Gaza e o tratamento desumano que o Estado sionista israelense dá aos palestinos de um modo em geral.

* o texto foi uma síntese que fiz das informações que colhi durante o dia. Maria_FRo

leia mais no tsavkko – clique aqui

3 Comentários

Arquivado em arte, bicicletas, charge, critical mass, massa crítica, Memória, movimentos sociais, protestos

Antes tarde…

(…)Agora, no final de novembro, novamente a folha, que deveria poupar o corte de eucaliptos, publica um artigo de César Benjamin, ex-militante arrivista, que além de ofender a memória de um dos principais movimentos responsáveis pela queda da ditadura militar no Brasil, ataca gratuitamente a figura do presidente do país, praticando injúria e difamação. As falsas acusações do artigo injurioso foram negadas com veemência por todos os envolvidos, inclusive pelo delegado responsável pela prisão de Lula à época: Romeu Tuma.(…)”

Eduardo Guimarães propôs o protesto que foi acatado pelo MSM para  dezembro (05/12).  O blogueiro Antonio Arles, começa uma campanha para o cancelamento da assinatura da Folha e tb do uol:

……………………………………………………………………………………………

” em 04/12,  Antonio Arles  recebeu uma notificação dos advogados da Folha e do Uol. Determinava que retirasse do seu blog, o Arlesophia, as imagens da campanha para cancelamento das assinaturas do jornal e do portal”

CENSURADO

Na chamada blogosfera(mídias sociais, blogs) reverberou: ” Acabo de ser notificado extrajudicialmente por escritório de advocacia representando a Folha para que retirasse os selos da campanha #CancelandoFOLHA #CancelandoUOL, sob pena de processo por suposto uso indevido das marcas. Sendo assim, retirei imediatamente os referidos selos.No momento não poderei desenvolver um post explicando melhor o caso, mas deixo aqui meu protesto por mais este ato de censura contra blogs.”

Entenda um pouco mais por Conceição Lemes :

Viomundo – A que horas isso aconteceu?

Antonio Arles – Aproximadamente às 14 horas, quando saía de casa para a USP. Minha mulher [Flávia] manobrava o carro na garagem e eu esperava na calçada. Aí, fui abordado por um motorista de táxi, que perguntou se eu era Antonio. À confirmação, apontando na direção de um táxi parado no lado oposto à minha casa, disse: “Ela quer falar com você”.

Viomundo – Ela era quem?

Antonio Arles – Uma mensageira do escritório de advocacia que representa o jornal e o portal. Ela limitou-se a dizer que havia uma correspondência para mim e pediu-me que assinasse o protocolo de recebimento. Como estava atrasado para a aula, abri o envelope no caminho. Aí,  eu vi que se tratava de uma notificação extrajudicial dos advogados da empresa pelo uso indevido da imagem na campanha pelo cancelamento das assinaturas da Folha e do Uol.

Viomundo – A campanha começou quando?

Antonio Arles – Domingo passado.Na sexta-feira passada [27 de novembro], em função da publicação do artigo Os filhos do Brasil, do César Benjamin, começou no twitter um movimento para cancelamento das assinaturas. No domingo, como já havia muitas adesões, resolvemos lançar a campanha.

Viomundo – É uma campanha do seu blog?

Antonio Arles – Não. É de várias pessoas da blogosfera.  Para facilitar o acesso, eu coloquei os links das imagens no meu blog. A partir daí o pessoal foi disseminando.

Viomundo – O que contêm essas imagens?

Antonio Arles – As marcas da Folha e do Uol.

Viomundo – Qual a alegação dos advogados?

Antonio Arles – Uso indevido da imagem. No final da tarde, fiz o que notificação determinou: retirei as imagens do ar. Consequentemente a própria campanha do meu blog.

Viomundo – O que você pretende fazer agora?

Antonio Arles – Meu advogado está estudando medidas legais cabíveis contra essa postura da Folha. Considero intimidação. É cerceamento à liberdade de expressão.

E no  dia 05/12 ( 10h)  na Barão de Limeira em frente à sede do Jornal colaboracionista com a ditadura militar o segundo protesto contra o jornalismo marrom praticado pela Falha realizou-se :

assinaturas de apoio:

……….

momento dos discursos:

O manifesto repúdio foi lido, em seguida outros falam e protestam contra o para-jornalismo praticado por uma empresa, no mínimo calhorda.

acabou? que nada, pós ato outra forte campanha na mídia social e blogs:

…………………………………………………………………………………….

………………………………………………………………………

………………………………………………………………………………

Arte: Latuff

leia mais :

boicote aos anunciantes

Blogs na campanha contra a Falha de SP

-.-.-.-.-.-.

1 comentário

Arquivado em bicicletas, charge, fotos, Memória, movimentos sociais, protestos

La Negra

Ontem, (04 de out), transvivenciou Mercedes Sosa, nomeada por muit@s como a voz dos sem voz na América Latina.

Arte: Latuff

Arte: Latuff

Ganhou o apelido de “la Negra”, por causa de suas longas e belas madeixas; de forte opinião política, sempre se posicionava ao lado dos oprimid@s do continente latino, com sua voz marcante e emocionante, essa era Mercedes, Mercedes Sosa ou simplesmente a voz dos que não tinham voz!

mais sobre a voz da América Latina:

( 1) (2) (3) (4) (5)

-.-.-.-.-.-

2 Comentários

Arquivado em Uncategorized

Honduras Hoje (Brasil pós 2011?)

arte: Latuff

arte: Latuff

…….

Arte: Latuff

Arte: Latuff

.-.-.-.-.

3 Comentários

Arquivado em arte, charge, Memória

digamos não à homofobia

arte: Latuff

arte: Latuff

Sobre a campanha, uma breve reflexão da Maria Fro:

Estejamos atentos viver sua própria sexualidade não é privilégio é direito de todo e qualquer ser-humano. Homofobia, racismo, sexismo são crimes hediondos, livre-se deles.

as reflexões da Maria Victoria Benevides :

“Infelizmente, terminada a parte mais repressora do regime militar, a idéia de que todos, independentemente da posição social, são merecedores da preocupação com a garantia dos direitos fundamentais – e não mais apenas aqueles chamados de presos políticos, que não mais existiam – não prosperou como era de se esperar. A defesa dos direitos humanos (DH) passou a ser associada à defesa dos criminosos comuns que, quando são denunciados e apenados, pertencem, em sua esmagadora maioria, às classes populares. Então, a questão deixou de ter o mesmo interesse para segmentos da classe média (…). E aí vemos como já se explica uma parte da ambigüidade que cerca a idéia de direitos humanos no Brasil, porque depois da defesa dos direitos daqueles perseguidos pelo regime militar se estabeleceria uma cunha, uma diferenciação profunda e cruel entre ricos e pobres, entre intelectuais e iletrados, entre a classe média e a classe alta, de um lado, e as classes populares de outro, incluindo-se aí, certamente, grande parte da população negra.(…)

(…) Somos uma sociedade profundamente marcada pelas desigualdades sociais de toda sorte e, além disso, somos a sociedade que tem a maior distância entre os extremos, a base e o topo da pirâmide sócio-econômica. Nosso país é campeão na desigualdade e distribuição de renda. As classes populares são geralmente vistas como “classes perigosas”. São ameaçadoras pela feiúra da miséria, são ameaçadoras pelo grande número, pelo medo atávico das “massas”. Assim, de certa maneira, parece necessário às classes dominantes criminalizar as classes populares associando-as ao banditismo, à violência e à criminalidade; porque esta é uma maneira de circunscrever a violência, que existe em toda a sociedade, apenas aos “desclassificados”, que, portanto, mereceriam todo o rigor da polícia, da suspeita permanente, da indiferença diante de seus legítimos anseios.” (BENEVIDES, 2009)

termine a leitura da Maria Fro, aqui

-.-.-.-.-

Deixe um comentário

Arquivado em arte, leituras, movimentos sociais, protestos, texto

Leituras do feriado

O que fazer no feriado? pedalar, obviedade!

E que tal começar a ler ( além da realidade midiática corporativa)?

Nossas indicações:

Arte: Latuff via CMI

Arte: Latuff via CMI

Disappointment

Léxico da (anti*)desilusão   Naomi Klein, The Nation

( dica e trad. do Vi o Mundo)

Nem tudo vai muito bem na Obamafãslândia. Não se sabe ainda exatamente como explicar a mudança de humor. Talvez seja o fedor rançoso que vem do mais recente banco ‘resgatado’ pelo Tesouro. Ou das notícias de que o principal conselheiro de Economia do presidente, Larry Summers, recebeu milhões dos mesmos bancos e corretoras de “hedge funds” de Wall Street que, agora, ele tenta proteger contra a re-regulação. Ou talvez a coisa tenha começado antes, quando Obama silenciou, durante o ataque de Israel a Gaza.

Seja quem for que pague o mico, número cada vez maior de Obamamaníacos começam a entrever a possibilidade de que seu herói talvez não consiga salvar o mundo, se só contar, para ajudá-lo, com nossa esperança… por mais sincera e firme que seja.

Se esperamos que a cultura de “fã-clube” que levou Obama ao poder venha a converter-se em movimento político independente, suficientemente potente para produzir programas que efetivamente dêem conta dos atuais problemas e crises que os EUA enfrentam, é hora de todos pararmos de esperar-com-esperanças e começar a exigir.

O primeiro passo, contudo, tem de passar por todos entendermos completamente os interespaços muito estreitos nos quais muitos dos movimentos progressistas são obrigados a viver, nos EUA. Para entender isso, é preciso construir outra linguagem, específica para esse momento-Obama em que estamos. Aqui sugiro um começo de um novo léxico.

Super-esperanças. Como nas ressacas, a super-esperança resulta de super-excesso, ontem. Acontece sempre que mergulhamos fundo demais em qualquer sensação prazerosa que, contudo, seja ou pecado ou crime ou faça mal à saúde ou ao meio ambiente. E depois vem o remorso. A culpa. Às vezes, muita vergonha. É o equivalente político da larica por hipoglicemia. Frase exemplar, de caso de super-esperança é: “Ao assistir ao discurso sobre economia, de Obama, meu coração disparou. Depois, quando quis contar a um amigo sobre os planos de Obama para resolver a vida dos milhões de desempregados e sem-teto… eu só gaguejava. Surto muito brabo, de super-esperança.”

Esperança-sobe-e-desce. Como se vivesse numa montanha-russa, o esperador de esperança-sobe-e-desce vive um intenso sobe-e-desce emocional nesses dias de Obama, entre a euforia de ter um presidente que apoia que se ensine sexo seguro nas escolas, e o fundo do poço emocional de sentir-se excluído da discussão, só porque se é segurado individual de algum plano de saúde privado… e é como se não existíssemos e ninguém nos ouve. Frase exemplar, nesse caso, é: “Surtei de alegria quando Obama disse que Guantánamo será fechada. Mas agora estão dizendo que, na prisão de Bagram, ninguém tem direito algum, a nada. Parem a montanha-russa!! Eu preciso sair daqui!”

Esperança-intoxicação. Como quem morre de saudade da casa da mãe, os esperadores de esperança-intoxicação são indivíduos intensamente nostálgicos. Não entenderam que a campanha eleitoral não passou de um surto de otimismo, pensaram que duraria para sempre. Agora, vivem para reencontrar aquela emoção, aquele calor… quase sempre super-exagerando o significado de manifestações quase insignificantes da decência humana de Obama. Frases exemplares: “Eu fiquei gravemente intoxicado de esperança-tóxica sobre a escalada no Afeganistão. Depois, quando assisti a um vídeo no YouTube, em que Michelle ensina jardinagem orgânica, foi lindo e tudo passou. Foi como se estivesse outra vez assistindo à cerimônia da posse. Depois, soube que o governo Obama está boicotando uma importante conferência da ONU contra o racismo… E desabei, outra vez, de saudades dos bons tempos. Foi pior que antes! Sorte que, em seguida, assisti a um desfile em que Michelle só usou vestidos desenhados por estilistas independentes, das minorias étnicas e, ufa, melhorei.”

Esperança-fissura. A esperança-fissura, como a fissura de drogas, é terrível e arrasta a fazer qualquer coisa para pôr fim à fissura. (Intimamente relacionada à esperança-intoxicação-saudade-dos-bons-tempos, mas mais severa; afeta sobretudo machos de meia idade). Frase exemplar: “Joe contou que realmente acredita que Obama deliberadamente escolheu Summers especificamente para estragar o resgate dos bancos; assim, Obama teria uma desculpa para fazer o que realmente deseja fazer: nationalizar os bancos e convertê-los em cooperativas de crédito. Que esperança-fissura!”

Esperança-deprê. Como um certo tipo de amante-deprê, a obamita esperadora de esperança-deprê não é doida; é horrivelmente pessimista e está muito triste. Ela (a maioria são elas) projetou poderes messiânicos em Obama. Agora, sofre de desilusão inconsolável. Frase exemplar: “Acreditei meeeeeeeeeeeeesmo que Obama nos obrigaria a encarar o passado escravagista dos EUA e que teríamos discussão nacional séria, nos EUA, sobre raça e racismo. Agora… ele já nem fala em raça e só faz distorcer argumentos legalistas para evitar a devassa em todos os crimes dos anos Bush. Cada vez que ouço Obama dizer que “temos de avançar”… é como se meu coração levasse uma chicotada, tudo outra vez.”

Esperança reversa. Como no coice reverso de um chicote, que tem de ser bem manejado para não chicotear o chicoteador, a esperança reversa é o perfeito reverso, um giro de 180 graus, em tudo que tenha a ver com Obama. As vítimas de esperança reversa foram seguidores apaixonados, verdadeiros evangelistas, carne da carne de Obama. Hoje, são seus piores inimigos, os mais acérrimos criticadores! Frase exemplar: “Com Bush, pelo menos, todos sempre souberam que era perfeito idiota. Agora, taí: as mesmas guerras, as mesmas torturas nas mesmas prisões sem lei, a mesma corrupção em Washington, e os panacas festejam, como esposa enganada de novelão, que nada sabe, nada vê. Precisam é de umas boas chicotadas!”

Agora, tentando encontrar nomes para designar nossos padecimentos nacionais por causa da esperança, lembrei-me do falecido Studs Terkel**, e do que diria dessa ressaca nacional pós-eleitoral que acomete os EUA. Com certeza diria que não desesperemos. Folheei um de seus últimos livros Hope Dies Last [A esperança é a última que morre]. Nem precisei procurar muito. As primeiras palavras do livro são “a esperança nunca morre como nasceu: ela sempre deixa algum benefício”.

Aí se diz quase tudo. A esperança foi excelente slogan, que acompanhou um candidato que fez aposta alta, de longo prazo. Contudo, como mote e postura que acompanhe o presidente da nação mais poderosa da terra é perigosamente reverente.

A tarefa, para avançar (expressão que Obama adora), não implica abandonar a esperança. Implica, sim, encontrar melhores pontos nos quais apoiar a esperança – nas fábricas, nas comunidades, nos bairros, nas periferias, locais e espaços em que comícios, reuniões, manifestações de rua e ocupações começam já a renascer.

Sam Gindlin, cientista político, escreveu recentemente que o movimento de trabalhadores pode fazer muito mais do que apenas tentar preservar para si algum status quo.

Os trabalhadores podem, por exemplo, exigir que fábricas falidas e desativadas sejam convertidas em instalações ‘verdes’, onde se fabriquem veículos de transporte coletivo e se criem tecnologias não poluidoras e sistemas de energia renovável. “Ser realista significa arrancar a esperança dos discursos e metê-la nas mãos dos que trabalham”, escreveu ele.

Com o quê chegamos à última entrada desse léxico.

Esperança em movimento. Sentença exemplar: “Basta de crer em esperança que cai do céu. É preciso ativar a esperança em movimento, nos movimentos, de baixo para cima.”


* Essa é uma tradução de guerrilha. A quantidade de neologias cria risco imenso, para qquer tradutor. O que aí vai é uma das muitas possibilidade de traduzir esse tipo de discurso e há inúmeras outras. Correções e comentários são bem-vindos para caia.fittipaldi@uol.com.br

** Para saber quem é ver aqui

Arte: Protesto Gráfico

Arte: Protesto Gráfico

……….

Socialismo fracassou, capitalismo quebrou: o que vem a seguir?

( via Vi o Mundo)

A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. A prioridade não é o aumento do lucro e do consumo, mas sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos por meio da ação coletiva. Isso significa iniciativa pública não baseada na busca de lucro. Decisões públicas dirigidas a melhorias sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza pessoal. A análise é do historiador britânico Eric Hobsbawm

peixe

Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, o deslocamento do mercado livre para a ação pública deve ser maior do que os políticos imaginam. O século XX já ficou para trás, mas ainda não aprendemos a viver no século XXI, ou ao menos pensá-lo de um modo apropriado. Não deveria ser tão difícil como parece, dado que a idéia básica que dominou a economia e a política no século passado desapareceu, claramente, pelo sumidouro da história. O que tínhamos era um modo de pensar as modernas economias industriais – em realidade todas as economias -, em termos de dois opostos mutuamente excludentes: capitalismo ou socialismo.

Conhecemos duas tentativas práticas de realizar ambos sistemas em sua forma pura: por um lado, as economias de planificação estatal, centralizadas, de tipo soviético; por outro, a economia capitalista de livre mercado isenta de qualquer restrição e controle. As primeiras vieram abaixo na década de 1980, e com elas os sistemas políticos comunistas europeus; a segunda está se decompondo diante de nossos olhos na maior crise do capitalismo global desde a década de 1930. Em alguns aspectos, é uma crise de maior envergadura do que aquela, na medida em que a globalização da economia não estava então tão desenvolvida como hoje e a economia planificada da União Soviética não foi afetada. Não conhecemos a gravidade e a duração da atual crise, mas sem dúvida ela vai marcar o final do tipo de capitalismo de livre mercado iniciado com Margareth Thatcher e Ronald Reagan.

A impotência, por conseguinte, ameaça tanto os que acreditam em um capitalismo de mercado, puro e desestatizado, uma espécie de anarquismo burguês, quanto os que crêem em um socialismo planificado e descontaminado da busca por lucros. Ambos estão quebrados. O futuro, como o presente e o passado, pertence às economias mistas nas quais o público e o privado estejam mutuamente vinculados de uma ou outra maneira. Mas como? Este é o problema que está colocado diante de nós hoje, em particular para a gente de esquerda.

Ninguém pensa seriamente em regressar aos sistemas socialistas de tipo soviético, não só por suas deficiências políticas, mas também pela crescente indolência e ineficiência de suas economias, ainda que isso não deva nos levar a subestimar seus impressionantes êxitos sociais e educacionais. Por outro lado, até a implosão do mercado livre global no ano passado, inclusive os partidos social-democratas e moderados de esquerda dos países do capitalismo do Norte e da Australásia estavam comprometidos mais e mais com o êxito do capitalismo de livre mercado.

Efetivamente, desde o momento da queda da URSS até hoje não recordo nenhum partido ou líder que denunciasse o capitalismo como algo inaceitável. E nenhum esteve tão ligado a sua sorte como o New Labour, o novo trabalhismo britânico. Em suas políticas econômicas, tanto Tony Blair como Gordon Brown (este até outubro de 2008) podiam ser qualificados sem nenhum exagero como Thatchers com calças. O mesmo se aplica ao Partido Democrata, nos Estados Unidos.

A idéia básica do novo trabalhismo, desde 1950, era que o socialismo era desnecessário e que se podia confiar no sistema capitalista para fazer florescer e gerar mais riqueza do que em qualquer outro sistema. Tudo o que os socialistas tinham que fazer era garantir uma distribuição eqüitativa. Mas, desde 1970, o acelerado crescimento da globalização dificultou e atingiu fatalmente a base tradicional do Partido Trabalhista britânico e, em realidade, as políticas de ajudas e apoios de qualquer partido social democrata. Muitas pessoas, na década de 1980, consideraram que se o barco do trabalhismo não queria ir a pique, o que era uma possibilidade real, tinha que ser objeto de uma atualização.

protesto

Mas não foi. Sob o impacto do que considerou a revitalização econômica thatcherista, o New Labour, a partir de 1997, engoliu inteira a ideologia, ou melhor, a teologia, do fundamentalismo do mercado livre global. O Reino Unido desregulamentou seus mercados, vendeu suas indústrias a quem pagou mais, deixou de fabricar produtos para a exportação (ao contrário do que fizeram Alemanha, França e Suíça) e apostou todo seu dinheiro em sua conversão a centro mundial dos serviços financeiros, tornando-se também um paraíso de bilionários lavadores de dinheiro. Assim, o impacto atual da crise mundial sobre a libra e a economia britânica será provavelmente o mais catastrófico de todas as economias ocidentais e o com a recuperação mais difícil também.

É possível afirmar que tudo isso já são águas passadas. Que somos livres para regressar à economia mista e que a velha caixa de ferramentas trabalhista está aí a nossa disposição – inclusive a nacionalização -, de modo que tudo o que precisamos fazer é utilizar de novo essas ferramentas que o New Labour nunca deixou de usar. No entanto, essa idéia sugere que sabemos o que fazer com as ferramentas. Mas não é assim.

Por um lado, não sabemos como superar a crise atual. Não há ninguém, nem os governos, nem os bancos centrais, nem as instituições financeiras mundiais que saiba o que fazer: todos estão como um cego que tenta sair do labirinto tateando as paredes com todo tipo de bastões na esperança de encontrar o caminho da saída.

Por outro lado, subestimamos o persistente grau de dependência dos governos e dos responsáveis pelas políticas às receitas do livre mercado, que tanto prazer lhes proporcionaram durante décadas. Por acaso se livraram do pressuposto básico de que a empresa privada voltada ao lucro é sempre o melhor e mais eficaz meio de fazer as coisas? Ou de que a organização e a contabilidade empresariais deveriam ser os modelos inclusive da função pública, da educação e da pesquisa? Ou de que o crescente abismo entre os bilionários e o resto da população não é tão importante, uma vez que todos os demais – exceto uma minoria de pobres – estejam um pouquinho melhor? Ou de que o que um país necessita, em qualquer caso, é um máximo de crescimento econômico e de competitividade comercial? Não creio que tenham superado tudo isso.

No entanto, uma política progressista requer algo mais que uma ruptura um pouco maior com os pressupostos econômicos e morais dos últimos 30 anos. Requer um regresso à convicção de que o crescimento econômico e a abundância que comporta são um meio, não um fim. Os fins são os efeitos que têm sobre as vidas, as possibilidades vitais e as expectativas das pessoas.

sind

Tomemos o caso de Londres. É evidente que importa a todos nós que a economia de Londres floresça. Mas a prova de fogo da enorme riqueza gerada em algumas partes da capital não é que tenha contribuído com 20 ou 30% do PIB britânico, mas sim como afetou a vida de milhões de pessoas que ali vivem e trabalham. A que tipo de vida têm direito? Podem se permitir a viver ali? Se não podem, não é nenhuma compensação que Londres seja um paraíso dos muito ricos. Podem conseguir empregos remunerados decentemente ou qualquer tipo de emprego? Se não podem, de que serve jactar-se de ter restaurantes de três estrelas Michelin, com alguns chefs convertidos eles mesmos em estrelas. Podem levar seus filhos à escola? A falta de escolas adequadas não é compensada pelo fato de que as universidades de Londres podem montar uma equipe de futebol com seus professores ganhadores de prêmios Nobel.

A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. Não importa só o aumento do lucro e do consumo dos particulares, mas sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos por meio da ação coletiva. Mas isso significa – ou deveria significar – iniciativa pública não baseada na busca de lucro, sequer para redistribuir a acumulação privada. Decisões públicas dirigidas a conseguir melhorias sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza pessoal.

Em nenhum âmbito isso será mais importante do que na luta contra o maior problema com que nos enfrentamos neste século: a crise do meio ambiente. Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, significará um deslocamento de grande alcance, do livre mercado para a ação pública, uma mudança maior do que a proposta pelo governo britânico. E, levando em conta a gravidade da crise econômica, deveria ser um deslocamento rápido. O tempo não está do nosso lado.

Artigo publicado originalmente no jornal The Guardian. Tradução do inglês para o espanhol: S. Segui, integrante dos coletivos Tlaxcala, Rebelión e Cubadebate. Tradução do espanhol para o português: Katarina Peixoto

…………..

dica do Twitter do Luddista

+ leituras:

Editorial do CMI

+ no CMI

Sigilo Bacário – no Protesto Gráfico

Um Sindicato – Pimenta Negra

-.-.-.-.-.-.-.

Deixe um comentário

Arquivado em charge, leituras, texto

Oia o trem

Ele chegou no século XIX, na esteira modernização capitalista de nossa agricultura cafeeira. Era necessário, para o rápido escoar da produção das fazendas  de café do Vale do Paraíba fluminense e paulista.

As décadas se passaram, de economia agrícola o país industrializa-se rapidamente( para não dizer tardiamente), as estradas de ferro com bitolas largas, foram substituídas por estradas de rodagem. A economia corria não mais sobre os trilhos, agora com as rodas da “ordem e do progresso”.

Algumas estradas de ferro, ainda resistem aqui e acolá, fazendo às vezes de patrimônio histórico e/ou para o transportar do “povão”.

As fotos abaixo são da estação de Piracuama( distrito histórico da cidade de Pindamonhagaba), utilizado por turistas e moradores da região.

dsc06896

O prédio ainda conservado…

dsc06897

A integração entre os modais, ainda não é possível.

dsc06899

Moradia dos funcionários e familiares da estação.

dsc06902

Detalhes atuais da estação inaugurada em 1916

dsc06903

quem sabe, em um futuro não muito distante possamos reviver esse modal, como profeticamente o poeta já cantava…

leia mais sobre as ferrovias no Brasil:

Piracuama- Estações ferroviárias do Brasil

Ferrovias do Brasil, ensaios ilustrados – do Latuff

Ferrovias do Brasil – Apocalipse Motorizado

-.-.-.-.-.-.

3 Comentários

Arquivado em bicicletas, caminho da fé, Cicloturismo, Memória, vídeos